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domingo, 23 de março de 2014

Whisky e Hambúrger no Festival de Teatro de Curitiba

Neste espetáculo inédito, a atriz Patrícia Vilela retorna aos palcos de Curitiba e pela primeira vez divide a cena com Mário Bortolotto
Whisky e Hambúrger é a terceira peça de uma série que vem sendo desenvolvida pelo diretor e dramaturgo londrinense Mário Bortolotto, conhecido por seus textos ácidos e temas de violência urbana, os personagens marginais, que fazem parte do currículo do Grupo Cemitério de Automóveis há mais de trinta anos, agora ganham um recorte maduro e dialogam de forma direta com os anseios, tropeços e desilusões da vida, oferecendo ao espectador um vasto panorama das relações humanas. Não há tempo a perder com efeitos. Não há espaço para o que não seja essencial. O fato de que os textos, Borrasca, A pior das intenções e Whisky e Hambúrguer, guardem aproximações temáticas (sobretudo a amizade) e formais (um espaço curto de tempo, duas personagens, mobiliário mínimo e luz objetiva) não aponta, necessariamente, a guinada subjetiva (e estrutural) da sua dramaturgia recente. A superfície cristalina e radicalmente direta desses textos remetem a trágicos passeios em família presentes em filmes de suspense com assassinos seriais. Algo como: as bagagens no carro e as crianças no banco de trás, escutando uma música qualquer no toca-fitas. Eles irão passar mais um fim de semana na praia, e todos parecem felizes, e cantam juntos uma daquelas canções que as famílias cantam juntas quando se reúnem. Um pouco mais à frente, quem nota primeiro é o filho menor, um carro no acostamento com os piscas acesos. O pai oferece carona ao sujeito enorme e que usa botas de caubói. O que era antes um passeio em família é agora uma descida ao inferno. A placidez e a normalidade dão lugar ao acidente. Seus textos são como lagos congelados. Você pode patinar em lagos congelados, mas não existe qualquer possibilidade de segurança, e mesmo que as placas indiquem perigo, recue, esqueça isso, você insiste em seguir adiante. Numa pista de gelo, como na vida, estamos à mercê das contingências e das escolhas escassas. As peças de Mário Bortolotto, geralmente constituem-se de pequenos acidentes irreversíveis. Os pequenos acidentes são piores do que os acidentes fatais. Os acidentes fatais encerram a vida (o que pode ser um alívio). Os pequenos acidentes permitem que você sobreviva. Apesar das sequelas, apesar da dor, apesar de tudo. As personagens de Bortolotto sobrevivem, acima de tudo.

A atriz Patrícia Vilela

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